É impressionante porque é verdade. A paciência é importante até para tomar água, avalie então o que ela pode fazer em diversos acontecimentos da vida. Ela também nos revela um relacionamento maduro com o tempo. Para simplificarmos, a paciência ainda nos alerta sobre a necessidade de conviver com a vontade do outro e suspender um pouco o ego, uma vez que “o egoísmo da vontade coloca-se à margem de uma existência que já não tem a tônica em si própria”(LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito. 3ª ed. Lisboa, Portugal: Edições 70, junho de 2008, p. 237).
O desconforto físico pode ser evitado ou moderado respeitando o tempo, principalmente ao dormir, levantar ou trabalhar, tendo consciência da abertura de sua vontade em relação ao presente e ao futuro. Uma consciência que se articule com a ideia de tempo necessária para a nossa prevenção, como afirma Levinas: “Ser consciente é ter tempo. Não extravasar o presente, antecipando e apressando o futuro, mas ter uma distância em relação ao presente”(idem, p. 235).
A paciência precisa trabalhar com o verbo esperar. Esperar o melhor momento para agir; a oportunidade certa de decidir que caminho tomar. A isso dá-se o nome de obediência; saber ouvir a voz das coisas; observar a ordem na desordem; intuir a sutilidade do extraordinário nas mazelas do ordinário. Não é nada fácil conter os deslumbramentos do agir. Queremos fazer não importa como, nem quando, nem o quê. Somos tomados pela urgência do fazer, o que também é muito virtuoso, mas o polimento da paciência em nossas decisões pode nos levar a enxergar um sentido bondoso, generoso e feliz no simples agir. Repare que a paciência não exclui a ação de nossas vidas, pelo contrário, produz uma forma diferente de agir mediada pela espera, pela “passio”, pelo sofrimento.
“(…); a passividade última que se transmuda, no entanto, desesperadamente em ato e em esperança, é a paciência – a passividade do suportar e, entretanto, o próprio domínio” (idem, p. 236).
O fazer por fazer nos põe num círculo repetitivo onde o mais importante acaba sendo eu mesmo, o apego a mim mesmo, constituindo assim o amor-próprio. Romper com esse círculo implica construir pontes que nos vinculem aos interesses de outros, familiares ou até estranhos a nós, constituindo-nos como um ser em relação.
“Na paciência, a vontade perfura a crosta do seu egoísmo e como que desloca o centro da sua gravidade para fora dela a fim de querer como Desejo e Bondade que nada limita” (idem, p. 238).
Há inúmeros exemplos de paciência na literatura. Um episódio clássico é o de Telêmaco, filho de Ulisses, ao ter de esperar cerca de vinte anos para encontrar-se com o seu pai e, finalmente, vingar-se dos que cortejavam sua mãe e destruíam o trono de Ítaca. Ao voltar para casa, seu pai o encontra tomado pela ira, porém, o sábio Ulisses pede-lhe para controlar a ira até o amanhecer, pois tinha um plano em mente. Novamente, Telêmaco tinha que ter paciência e esperar até o dia amanhecer. A paciência o ajudou a ouvir seu pai, a controlar a ira e a não precipitar-se frente ao que estava por acontecer.
Na Bíblia, existe um outro clássico episódio em que vemos a mulher de Jó dizer-lhe palavras duras de blasfêmia contra Deus (Cf. Jó 2.9), mas o sábio, abençoado e, por isso, paciente Jó resistiu à prova da “passio”(sofrimento), da pura passividade, depurado de toda vaidade, ego, orgulho, viu seu cativeiro ser revirado de cima para baixo e tornou-se um homem ainda mais feliz e abençoado junto a Deus.
Diante desses exemplos e de tantos outros que conhecemos de sofrimento, de abnegação, de renúncia mesmo, não podemos mais ser reféns de nossa irritabilidade, falta de esperança, impaciência, quando simplesmente a vida não corresponde como planejamos; quando adoecemos; quando não recebemos o salário ou atrasa; quando não somos bem atendidos num restaurante, por exemplo; quando ouvimos desaforos; quando vemos as injustiças; quando o mundo parece cair sobre nossas cabeças; quando as chuvas não vêm e tudo fica mais difícil; quando temos que cumprir os horários de expediente no trabalho; quando estamos desempregados; quando…
Portanto, não perca a paciência com as adversidades da vida. Exercite-a!
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva, filósofo e teólogo
Páginas: www.umasreflexoes.wordpress.com